Manoel José do Bomfim (1868-1932)

Nasceu em Sergipe. Formou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro em 1890. Em 1898, ingressou no magistério, lecionando Educação Moral e Cívica na Escola Normal do Rio de Janeiro, na qual assumiu logo depois a cátedra de Pedagogia e Psicologia. Em 1902 foi a Paris com a finalidade de desenvolver seus estudos em Psicologia, tendo freqüentado o Laboratório de Psicologia anexo à Clínica Jouffroy, em Saint’Anne, e estudado com Georges Dumas e Alfred Binet, com quem planejou a instalação do primeiro Laboratório de Psicologia brasileiro, instalado em 1906 no Pedagogium, do qual foi diretor por quinze anos; poucas informações há sobre a produção desse laboratório, embora suas atividades sejam citadas nas obras publicadas pelo autor. De volta ao Brasil, foi nomeado diretor da Instrução Pública.


Autor de vasta obra, escreveu sobre História do Brasil e da América Latina, Sociologia, Medicina, Zoologia e Botânica, além de vários livros didáticos, dos quais alguns de Língua Portuguesa, em co-autoria com Olavo Bilac; em Psicologia e Educação escreveu Lições de pedagogia (1915) e Noções de psychologia (1916), obras utilizadas como suporte para suas aulas na Escola Normal; Pensar e dizer: estudo do symbolo no pensamento e na linguagem (1923), obra em que demonstra vasta cultura geral e domínio das mais importantes correntes de Psicologia na época; O methodo dos testes (1926) e Cultura do povo brasileiro (1932), além de outras publicações como: Critica à Escola Activa, O fato psychico, As alucinações auditivas do perseguido e O respeito à criança.


Sua obra escrita revela um pensador original e não articulado às idéias correntes na época; sua interpretação de Brasil apóia-se na análise histórica da colonização empreendida pela metrópole, na exploração e na espoliação das riquezas brasileiras, com conseqüências sobre as condições culturais do povo; assim, defende a expansão da educação pública como meio privilegiado para a construção de uma sociedade democrática, calcada na liberdade, que só poderia ser atingida pelo acesso de todos ao saber.


Suas concepções de Psicologia, fenômeno psicológico e método para seu estudo também seguem caminho diverso do corrente na época. Considera o fenômeno psicológico como eminentemente histórico-social, constituído nas relações entre consciências, mediatizadas pela linguagem, compreendida como produto e meio da socialização. Critica a pesquisa realizada em laboratório, considerando que a complexidade do psiquismo não seria passível de ser apreendida em condições tão restritas e artificiais; propõe o método interpretativo para o estudo do psiquismo, baseado no estudo das múltiplas manifestações humanas, no qual deveria ser incluído o estudo da história forjada pela humanidade ao longo do tempo, expressão maior da inteligência e fonte para sua compreensão. É possível dizer que Bomfim antecipou algumas idéias posteriormente correntes na Psicologia, como as de Vigotski e Piaget, assim como teria antecipado as idéias de Ernst Bloch e Antonio Gramsci em sua interpretação da sociedade. Entretanto, Bomfim permaneceu "esquecido" na historiografia brasileira, fenômeno esse que pode ser parcialmente explicado por suas diferenças e contraposição aos pensamentos hegemônicos da época.


PUBLICAÇÕES:

BOMFIM, M. Lições de pedagogia. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1926.

BOMFM, M. Noções de psychologia. Rio de Janeiro: Livraria Escolar, 1916.

BOMFIM, M. Pensar e dizer: estudo do symbolo no pensamento e na linguagem. Rio de Janeiro: Casa Electros, 1923.


FONTES:

ANTUNES, M.A. M. O processo de autonomização da psicologia no Brasil (1890 - 1930): uma contribuição aos estudos em História da Psicologia.1991. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo.
CABRAL, A. C. M. A psicologia no Brasil. Psicologia - Boletim [da] Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, v. 119, n.3, p. 9-51. São Paulo, 1950.
LOURENÇO FILHO, M. B. A psicologia no Brasil. Arquivos Brasileiros de Psicologia Aplicada, Rio de Janeiro, v. 23, n.3, p.41-53, set. 1971.
PENNA, A. G. Apontamentos sobre as fontes e sobre algumas das figuras mais expressivas da psicologia na cidade do rio de Janeiro. In: TEXTOS do Centro de Pós-graduação em Psicologia. Rio de Janeiro: ISOP-FGV, 1985.
PESSOTTI, I. Dados para uma história da Psicologia no Brasil. Psicologia, São Paulo, ano 1, n. 1, p. 1-14, maio 1975.
PESSOTTI, I. Notas para uma história da Psicologia no Brasil. In: QUEM é o psicólogo Brasileiro. São Paulo: Edicon/CFP, 1988.
PFROMM NETTO, S. A psicologia no Brasil. In: FERRI, M. G.; MOTOYAMA, S. (Org.). História das Ciências no Brasil. São Paulo: EPU/EDUSP, 1979. v. 3. p. 235-276.
RIBEIRO, D. Manoel Bomfim, antropólogo. In: BOMFIM, M. A América Latina: males de origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993.

Mitsuko Aparecida Makino Antunes

Fuente: Diccionário Biográfico de Psicología en Brasil - Pioneiros
Artigo publicado en: Portal SciELO acerca de Manuel J. do Bomfim, pioneer in studies about the Psychology.

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